Boca de Lobo
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Acho que são uma provocação…aliás a beleza, não sei se tem o dom ou a picardia da provocação, certo, é que provoca, atrai olhares apreciativos, mas nunca, quase nunca, nos deixa entrar por ela adentro…
Esta provocação chamam-se (disseram-me) Boca de Lobo. Quis o destino, já de há muitos anos, que nascesse num pequeno jardim mesmo em frente à porta do meu mundo. Vejo-a renascer todos os anos e faço de conta não lhe ligar, não dar por ela. Cresce, bota flor, muda de cor e continuo sem lhe ligar, apenas de esguelha ou soslaio lhe vou dando um olhar fugidio. Disfarço mal. Nunca soube disfarçar, por isso, penso que ela me apanha em flagrante delito de olhares fugidios. A mula, faz de conta que não dá por nada e continua no seu ar de alheia a tudo e a todos na sua singular provocação de beleza e de atracção de olhares.
Que raio, um homem não é de ferro…vergo sempre, não resisto a tanta provocação diária e chega sempre um dia em que a olho bem nos olhos, de frente, contenho a respiração por uns segundos e zás, já está… ela, aparentemente indiferente, larga um sorriso, que não se vê, mas que se sente, como quem diz – Apanhei-te, eu sabia…